quarta-feira, 20 de junho de 2012

Carta

Quase chorei. Não é normal chorar. Minha mãe diz-me que já me viu chorar muitas vezes. Eu digo-lhe que não conta porque já me conhece há muitos anos. Ela diz-me que sempre chorei em situações que era preciso chorar. Nunca desperdicei uma lágrima. Que parvoíce é esta de não desperdiçar lágrimas? Se calhar se chorasse mais era melhor pessoa. Faz-me lembrar que quase chorei. Fiz simplesmente o meu sorriso triste. Um sorriso que pouca gente viu. Todos conhecem o meu sorriso normal. A carta falava desse sorriso. Recebi uma carta. Quase chorei. Muito simples. Falava apenas de coisas que já passaram. Coisas que não aconteceram. Percebi que não me envolvo. Percebi que deixo oportunidades passarem. Percebi que o que penso muitas vezes não está completo. Ou certo. Em poucas palavras levei dez a zero de alguém que não dei o devido valor. A carta não era sobre isso. Mas eu consigo perceber as coisas. Aos menos isso. É raro ser no momento. Mas acabo por perceber onde errei. Sozinho. É só descer do pedestral em que me meto e perceber que errar é tão fácil. Mas perceber muitas vezes já não muda nada. É tarde. Tantas vezes foi tarde. Tenho medo de tudo o que acontece agora. Não temos a capacidade de ver o agora. O agora é demasiado rápido. Demasiado pessoal. Tanta coisa que no agora parece insignificante. Só quando já é tarde é que percebemos os agoras que eram importantes. As coisas que ficaram por dizer são as que doem mais. Não para mim. Eu não tenho arrependimentos. Para ter arrependimentos precisava de ser mais emotivo. Tenho de aprender. Não sei nada. Por isso é que só quase chorei.

2 comentários:

Anónimo disse...

este texto está tão lindo e tens tanta razão. sempre que percebemos que erramos é tarde, enfim :)

opá a sério, adorei o texto xD

David Pires disse...

éme, por acaso agora li isto de novo e até me pareceu ter alguma inteligência na coisa :)
Obrigado!