quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ocos


     "Tenho saudades". Eu também. "Saudades de quando íamos todos de autocarro a fazer parvoíce e depois ficávamos todos juntos na pousada a falar mal uns dos outros".  Eu não. Eu tenho saudades de ganhar. Saudades de sentir controlo total do meu corpo. Sentir a adrenalina a subir ao ouvir as três palavras que me faziam esquecer tudo, "aos seus lugares".
    Não posso dizer estas coisas, não posso mostrar que o que tenho saudades é de mim mesmo naqueles momentos. Mas também não minto, apenas sorrio e deixo pensarem o que quiserem.
   "O pessoal". As pessoas tem saudades da aparente união, daquela euforia do grupo. A memória brinca connosco e traz-nos apenas sorrisos e momentos leves, para trás ficam aqueles momentos em que desejávamos estar noutro lugar e que nos perguntávamos "o que faço eu aqui?". A memória é assim, gosta de lembrar os outros mas poucas vezes se lembra de nós.
     Por mais que pense, não tenho memórias de grupo que gostaria de repetir. (Podia agora divagar sobre a questão das pessoas em grupo e da falsa alegria, mas não é o momento certo, iam-me achar um pessimista, como sempre). Os grupos são como a família, não escolhemos quem faz parte deles e por isso com o passar do tempo começamos a perceber os pequenos defeitos de toda a gente e começamos a ficar aborrecidos daquelas pessoas que sabemos que só estão ali porque aquilo é um grupo.
    "Tens de ir visitar o pessoal!". Não tenho. Por vezes lembro-me dos momentos que passei, mas depois percebo que esses momentos nada têm a ver com as pessoas que me rodeavam, mas sim comigo mesmo. Na altura podia ter pensado em voltar, mas voltar significava voltar para tudo, e eu não tenho a capacidade de criar laços ocos outra vez.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Dita

Já não escrevo. Verdade. Acho que as palavras cada vez menos conseguem expressar o que realmente vai dentro de mim. Por outro lado não há outra maneira. Outra maneira "universalmente" compreendida para mostrar o que realmente se passa dentro de cada um. Mas já não preciso de escrever porque posso dizer tudo o que quero. Só uso a palavra escrita quando não consigo usar a palavra dita. A palavra dita tem mais força. A palavra dita é mais real. A palavra dita tem olhos. Tem nariz. Tem boca. Pela primeira vez a palavra dita ganha na minha vida. Já não escrevo. Digo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Robot

     Não sei o que estou a fazer. Não sei o que vou fazer. 
    Nunca tive medo de magoar os outros, principalmente porque não quero saber da maioria dos outros, mas tenho-me tornado mais humano nos últimos tempos, e tal como os humanos começo a duvidar de mim mesmo. Eu não posso duvidar de mim. Não posso ter arrependimentos. Há a regra de nunca me arrepender de nada. 
    Não me arrepender de nada não implica não aprender com os erros. Eu aprendo com tudo, sou uma espécie de robot que aprende conforme as experiências que vai tento, mas que tudo o que faz são apenas actos isolados que nunca terão repercussão no futuro. O problema de aprender com as experiências é quando nos deparamos com situações nunca antes resolvidas (nem mal nem bem). E o que me difere de um robot é eu não querer errar nesta situação mesmo que isso implique aprender para situações futuras.
    Eu acho que já me decidi. Posso me arrepender no futuro? Talvez. Mas quem nunca admite que pode estar errado, também nunca vai aprender. 

terça-feira, 19 de março de 2013

Nature



Mais um trabalho que fiz para o meu belo estabelecimento de ensino!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

3D

Mais uma vez venho aqui mostrar o meu trabalho. Foi por ele que deixei este blog assim. Quando digo trabalho digo a tentativa de me manter um aluno que faz bons trabalhos. Decidi no inicio do ano (escolar) que havia coisas que deviam ser deixadas de lado, para não ocuparem tempo nem espaço de pensamento quando vou dormir. "David, e namorada?" diz-me a minha avó num misto entre brincadeira e esperança. "Avó, este ano é só escola..." digo eu entre o decidido e o brincalhão. Este blog ficou para trás, não acompanhou a modernidade das minhas decisões (acho que isto não faz sentido, mas um escritor para ficar conhecido como bom escritor não pode fazer sentido). Por vezes não tomo as melhores decisões, apesar de afirmar que sim, tenho problemas.



Showreel 3D from David Pires on Vimeo.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Versão


     Estou sempre a pensar em vidas futuras ou alternativas. Sempre é demasiado. Penso várias vezes em vidas futuras ou alternativas. Nunca penso em versões menos agradáveis do que a realidade. (Será mais fácil imaginar melhor do que pior?) Há quem diga que em fez de imaginar podia estar a tentar mudar para uma dessas versões melhores, mas digo já que isso não é possível. Eu nunca imagino coisas que são possíveis. Para começar nada posso fazer em relação ao futuro, tenho de chegar lá, não é uma coisa que aconteça já, e quando lá chegar passa a ser o presente. Não posso simplesmente saltar para o futuro. Quando penso em versões alternativas não penso em coisas possíveis de alterar no presente. Por exemplo pensar que poderia viver na Australia, isso poderia alterar mudando-me para lá, isto se não pensar nas restrições, mas há sempre (lá está o sempre) maneiras de dar a volta. O que eu posso imaginar é a possibilidade de ter nascido na Australia, isso é uma coisa que não posso mudar. Quando penso nas alternativas normalmente não é algo que eu possa controlar a partir do agora, são coisas que já passaram, que nunca estiveram nas minhas mãos, como ser um japonês com memória fotográfica que vive nas ilhas Maurícias.
     Prefiro pensar nas alternativas do que nas vidas futuras, porque sei que o futuro esta nas minhas mãos e a desilusão é real. Por outro lado também existe o presente e a desilusão por perceber que sou apenas um rapaz que vinte e poucos anos a viver em Portugal que não tem nenhum talento em especial, mas esta passa rapidamente quando percebo que até sou relativamente feliz e há pouca coisa que me foi negada para o meu futuro. Claro que há pouca probabilidade de ser um astronauta, um condutor de formula 1, ou um agente secreto, mas ainda está tudo muito em aberto, possivelmente ainda está tudo nas minhas mãos. Claro que já não posso nascer japonês, nem consigo treinar a minha mente ao ponto da memória fotográfica, mas sempre me posso mudar para as ilhas Maurícias.