sábado, 29 de setembro de 2012

Deriva

    São as sensações nunca antes experimentadas que me fazem sorrir mais tarde. Mesmo aquelas que no momento acho serem desagradáveis. Como ficar encharcado até à última camada de roupa, tremer de frio e saltitar para aquecer. O pensamento deriva à procura de conforto. Um banho quente. A recompensa das sensações desagradáveis são os seus opostos. Tão bom sentir o corpo a aquecer de fora para dentro, a contrariar a regra do dentro para fora. Aqui é quando dá para sorrir.
    Não sei se é verdade que o nosso corpo se adapta a tudo. Tanta coisa me faz duvidar. Mas claro acabo sempre por ser surpreendido, claro. Frio, dor, cansaço. Tudo começa a ser definido a partir de novos limites, limites estes que vão sendo testados sem nenhum respeito por algo que é único. Estraga não há volta a dar. Meter cuspo, fita-cola ou araldite nunca vai fazer com que volte a ser a mesma coisa.
    Fechar os olhos e rir até começarem a doer a costelas. Beber um litro de água de uma só vez sem pensar na dor de barriga. Mastigar pastilha até já não sentir os maxilares. Utilizar o computador até parecer que as pontas do dedos vão cair. Escrever até que tudo pareça que já não faz sentido e que perdemos o fio que queríamos seguir no início.

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