Emoção

São só sonhos. Acordo leve e com um sorriso, mas são só sonhos. A realidade continua igual. Nada contra a realidade, mas nos sonhos tudo parecia mais fácil e mais belo. Não porque o que me rodeia é melhor, mas porque eu sou melhor. Não sei definir melhor. Mas vê-se claramente que sou alguém diferente, alguém que provavelmente me faria rir com algum desdém, alguém que não teria vontade de rir de desdém de alguém.
Há sempre pessoas. Sempre uma de cada vez, parece que estou a conhecer uma por dia. Mas não estou realmente a conhecer, porque já as conheço. Acho que são elas a conhecer este alguém que eu sou, parece que gostam, eu também gosto delas. Gostar é estranho, para mim é tão efémero. Não devia ser. Mas este alguém que sou eu parece gostar tão facilmente. Acima de tudo parece tão aberto a gostar.
As pessoas estão felizes, e esta pessoa não sou bem eu, portanto não vai ser visto da forma errada se disser que sou eu que as faço felizes. Eu nunca diria que podia fazer alguém feliz, como nos filmes. Prometer isso é arriscado. Mas este eu parece-me capaz de dizer esse tipo de coisas, é capaz de ser mais humano. Faz-me pensar que há pessoas tão ingénuas. Mas ele promete e cumpre. Porque ele usa as minhas capacidades para o bem, não que eu as use para o mal, mas para o bem também não será.
Nenhuma das pessoas que aparece nos sonhos mereceu a minha total atenção fora deles. Mas também já é impossível dar essa atenção. Pessoas do passado, que me marcaram de certa forma, mas que eu nunca deixei realmente entrar. O meu subconsciente deve estar a tentar dizer-me algo. Algo que eu sei.
Podia-se pensar que seria sobre não dar o devido valor às pessoas, mas acho que não. É sobre o desdém, o desdém que eu tive por este eu. Este eu tão emotivo e sem medo de se abrir. Para deixar de ter medo das emoções, não o medo de as sentir, mas de as mostrar. Ainda não consigo deixar de pensar que as emoções fazem de uma pessoa ridícula. Estragaram-me. Ou aprendi? Como quando uma criança mete os dedos numa tomada.