quarta-feira, 6 de junho de 2012

Areal

Havia uma praia. Uma praia que eu sabia o nome, mas um nome que até hoje não sei realmente o porquê. Um nome que quando eu cheguei lá já não fazia sentido, um nome que perdeu a razão de ser. Um nome que cria expectativas, mas que depois caem por terra ao primeiro olhar, um nome que hoje em dia não é mais que uma desilusão. Praia do Cavalo Preto. Não podia haver nome de praia mais interessante na mente de uma criança. Imaginar um cavalo lusitano negro como carvão, selvagem mas elegante, a brilhar da transpiração enquanto corre pelas areias brancas de uma praia gigantesca.
Claro que isto era tudo uma ilusão de um miúdo. A praia não tinha nenhum cavalo, era pequena e de areia acastanhada. Para quem já achava praia uma grande desilusão, aquela foi mais uma que não fazia jus ao seu nome. Para além disso dizia-se que a areia inferior era preta. Algo que se revelou praticamente mentira porque a areia preta já quase não existia.
Anos mais tarde fiquei a saber que antes de eu existir havia cavalos perto daquela praia. E como algo que já não existe não me podem tirar, criei uma imagem daquela praia nos seus supostos anos áureos. Uma praia cheia de cavalos a correr em câmera lenta no areal branco, e de cada vez que o seus cascos raspam na areia, deixam um marca profunda e negra da areia que se encontra por baixo.

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