"Tenho saudades". Eu
também. "Saudades de quando íamos todos de autocarro a fazer parvoíce e
depois ficávamos todos juntos na pousada a falar mal uns dos outros".
Eu não. Eu tenho saudades de ganhar. Saudades de sentir controlo total do
meu corpo. Sentir a adrenalina a subir ao ouvir as três palavras que me faziam
esquecer tudo, "aos seus lugares".
Não posso dizer estas coisas, não
posso mostrar que o que tenho saudades é de mim mesmo naqueles momentos. Mas
também não minto, apenas sorrio e deixo pensarem o que quiserem.
"O pessoal". As pessoas
tem saudades da aparente união, daquela euforia do grupo. A memória brinca
connosco e traz-nos apenas sorrisos e momentos leves, para trás ficam aqueles
momentos em que desejávamos estar noutro lugar e que nos perguntávamos "o
que faço eu aqui?". A memória é assim, gosta de lembrar os outros mas
poucas vezes se lembra de nós.
Por mais que pense, não tenho
memórias de grupo que gostaria de repetir. (Podia agora divagar sobre a questão
das pessoas em grupo e da falsa alegria, mas não é o momento certo, iam-me
achar um pessimista, como sempre). Os grupos são como a família, não escolhemos
quem faz parte deles e por isso com o passar do tempo começamos a perceber os
pequenos defeitos de toda a gente e começamos a ficar aborrecidos daquelas
pessoas que sabemos que só estão ali porque aquilo é um grupo.
"Tens de ir visitar o
pessoal!". Não tenho. Por vezes lembro-me dos momentos que passei, mas
depois percebo que esses momentos nada têm a ver com as pessoas que me
rodeavam, mas sim comigo mesmo. Na altura podia ter pensado em voltar, mas
voltar significava voltar para tudo, e eu não tenho a capacidade de criar laços
ocos outra vez.